o ano que mudou tudo
Os anos 50 chegaram ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado "baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira, em um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos EUA. A nova década que começava já prometia grandes mudanças no comportamento, iniciada com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo.
A imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando. As moças bem comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade.
Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de liberdade "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957] da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década.
Nesse cenário, a transformação da moda iria ser radical. Era o fim da moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada vez mais ligada ao comportamento.
Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas criaram produtos específicos para os jovens, que, pela primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos. Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época.
Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizesJean Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma nova atitude.
Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a criação de japonas e sahariennes [estilo safári], foram atualizações das tendências que já eram usadas nas ruas de Londres ou Paris.
O sucesso de Quant abriu caminho para outros jovens estilistas, como Ossie Clark, Jean Muir e Zandra Rhodes. Na América, Bill Blass, Anne Klein e Oscar de la Renta, entre outros, tinham seu próprio estilo, variando do psicodélico [que se inspirava em elementos da art nouveau, do oriente, do Egito antigo ou até mesmo nas viagens que as drogas proporcionavam] ou geométrico e o romântico.
Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como matéria-prima.
Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas fibras, com a popularização das sintéticas no mercado, além de todas as naturais, sempre muito usadas.
As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock.
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking [lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966].
A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através das franquias.
Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.
Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde foram para a famosa King's Road e o bairro de Chelsea, sempre com muita música e atitude jovens.
Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos rebeldes ou coque no alto da cabeça [muito imitado pelas mulheres].

Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de liberdade "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957] da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década.
Nesse cenário, a transformação da moda iria ser radical. Era o fim da moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada vez mais ligada ao comportamento.

Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizesJean Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma nova atitude.
Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a criação de japonas e sahariennes [estilo safári], foram atualizações das tendências que já eram usadas nas ruas de Londres ou Paris.

Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como matéria-prima.
Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas fibras, com a popularização das sintéticas no mercado, além de todas as naturais, sempre muito usadas.
As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock.
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking [lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966].

Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.
Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde foram para a famosa King's Road e o bairro de Chelsea, sempre com muita música e atitude jovens.
Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos rebeldes ou coque no alto da cabeça [muito imitado pelas mulheres].
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Twiggy, o rosto dos 60
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Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador.
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada.
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon.
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com o início do
fenômeno hippie do final dos anos 60.
A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. Também em Londres, surgiram os mods, de paletó cintado, gravatas largas e botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa [como os Beatles]. A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".
Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde que viaja em velocidade superior à do som, são exemplos de uma era de grande desenvolvimento tecnológico que transmitia uma imagem de modernidade. Essa imagem influenciou não só a moda, mas também o design e a arte que passaria a ter um aspecto mais popular e fugaz.
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada.
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon.
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com o início do

A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. Também em Londres, surgiram os mods, de paletó cintado, gravatas largas e botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa [como os Beatles]. A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".
Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde que viaja em velocidade superior à do som, são exemplos de uma era de grande desenvolvimento tecnológico que transmitia uma imagem de modernidade. Essa imagem influenciou não só a moda, mas também o design e a arte que passaria a ter um aspecto mais popular e fugaz.
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Trabalho de Andy Warhol, símbolo da pop art |
Nesse contexto, nenhum movimento artístico causou maior impacto do que a Arte Pop. Artistas como Andy Warhol, Roy Lichetenstein e Robert Indiana usaram irreverência e ironia em seus trabalhos. Warhol usava imagens repetidas de símbolos populares da cultura norte-americana em seus quadros, como as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe. A Op Art [abreviatura de optical art, corrente de arte abstrata que explora fenômenos ópticos] também fez parte dessa época e estava presente em estampas de tecidos.
No ritmo de todas as mudanças dos anos 60, o cinema europeu ganhava força com a nouvelle vague do cinema francês ["Acossado", de Jean-Luc Godard, se tornaria um clássico do movimento], ao lado do neo-realismo do cinema italiano, que influenciaram o surgimento, no início da década, do cinema novo [que teve Glauber Rocha como um dos seus iniciadores] no Brasil, ao contestar as caras produções da época e destacar a importância do autor, ao contrário dos estúdios de Hollywood.
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.
No Brasil, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma viagem psicodélica.
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda, tudo kitsch, retrô e pop.
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética.
No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação.
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.
No ritmo de todas as mudanças dos anos 60, o cinema europeu ganhava força com a nouvelle vague do cinema francês ["Acossado", de Jean-Luc Godard, se tornaria um clássico do movimento], ao lado do neo-realismo do cinema italiano, que influenciaram o surgimento, no início da década, do cinema novo [que teve Glauber Rocha como um dos seus iniciadores] no Brasil, ao contestar as caras produções da época e destacar a importância do autor, ao contrário dos estúdios de Hollywood.
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.

A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda, tudo kitsch, retrô e pop.
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética.
No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação.
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.
Ritmos musicais " Bossa Nova e Tropicalismo"
Tropicália 40 anos: Após a Bossa Nova, movimento foi o mais influente na música brasileira
GABRIELA BELÉM
da Redação


Em outubro de 1967, durante o 3º Festival de Música Popular Brasileira, promovido na época pela TV Record, surgiam alguns dos artistas que formaram o movimento musical mais influente e original do país após a Bossa Nova. Os riffs de guitarra elétrica aliados à psicodelia, à mistura de ritmos populares e à experimentação presentes nas canções "Alegria, Alegria", cantada por Caetano Veloso e tocada pela banda argentina Beat Boys, e "Domingo No Parque", interpretada por Gilberto Gil e Os Mutantes no evento, transformaram a forma de se fazer música no Brasil por gerações e movimentaram a cena cultural brasileira.
A partir daquele momento até o fim de 1968, seria instalado o cenário revolucionário que mais tarde foi batizado de Tropicália. O disco antológico "Tropicália ou Panis Et Circenses", com nítido caráter de manifesto, lançaria um sincretismo de ritmos jamais ouvido, com o rock misturado à bossa nova, ao baião, ao samba e ao bolero.
Baseados nos ícones da contracultura inglesa e nos hippies norte-americanos, os baianos Gil, Caetano, Gal Costa e Tom Zé, ao lado dos Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias), Nara Leão e do maestro Rogério Duprat, criaram canções baseadas na pop arte, antropofagia, concretismo e numa estética de vanguarda, em plena ditadura militar. Tudo isso aliados aos letristas Torquato Neto e Capinam.
A idéia era, sobretudo, romper barreiras comportamentais, principalmente com a defesa do sexo livre. A moda psicodélica pairava na cabeça dos tropicalistas, que a difundiram por meio da irreverência.
Revolução cultural
Modernizaram-se também outras áreas da cultura nacional. Antes mesmo do lançamento de "Panis Et Circenses", o artista plástico Hélio Oiticica já havia lançado a obra de cunho vanguardista intitulada "Tropicália", em fevereiro de 1967. O movimento sofreu influências e influenciou o Cinema Novo de Glauber Rocha. Já no teatro brasileiro, apareceram as peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa. Na poesia concreta, surgiram nomes como Augusto de Campos e Décio Pignatari.
Quem batizou o movimento foi o jornalista e crítico de música Nelson Motta, com um artigo chamado de "A Cruzada Tropicalista", publicado no jornal "Última Hora", em 5 de fevereiro de 1968.
A intervenção na cena cultural do país foi mais crítica do que política. Por esse motivo o movimento foi menosprezado por boa parte da esquerda que, naquela época, ou apoiava os músicos politizados, a exemplo de Geraldo Vandré, ou os puristas da bossa nova. Para os universitários da chamada "linha dura" do movimento estudantil, a guitarra e o rock eram símbolos do imperialismo norte-americano, e não deviam participar do universo da música popular brasileira.
O movimento foi reprimido pela ditadura militar após a imposição do AI5 (Ato Institucional nº 5), em 1968, com a prisão de Caetano e Gil em dezembro do mesmo ano.
Desdobramentos
Nos anos 70, Os Secos e Molhados e o grupo pernambucano Ave Sangria retomaram a atitude anárquica e de protesto, com músicas repletas de boas doses de psicodelia, glam-rock e punk. Vestidos muitas vezes de mulher, o grupo de Ney Matogrosso e os recifenses utilizaram novamente o protesto e o sincretismo de ritmos da tropicália.
Ainda na mesma mesma década, Os Novos Baianos mesclaram choro, afoxé e rock and roll em suas canções. Outros ícones da vanguarda paulistana que receberam nítidas influências do movimento foram Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o Grupo Rumo.
Nos anos 90, o Manguebeat também foi criado a partir desse recurso tipicamente tropicalista: a mistura de elementos regionais (a exemplo do maracatu, coco e da embolada) e universais - como o rock, o funk, o dub e o rap. Não é à toa que a canção "Maracatu Atômico", do tropicalista Jorge Mautner, foi regravada pelo grupo Chico Science e Nação Zumbi, no álbum "Afrociberdelia" (1996).
Ainda hoje o Tropicalismo "faz a cabeça" de artistas internacionais como os músicos Beck e Devendra Banhart, que lançaram álbuns recentes declarando forte influência do movimento brasileiro.
Perdas recentes
Após a morte no ano passado do maestro e arranjador Rogério Duprat, um dos maiores ícones do Tropicalismo, o movimento perdeu em março deste ano o produtor musical Guilherme Araújo, que atuou nos bastidores do movimento com importantes nomes da MPB, como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.
Duprat, que começou na área erudita e depois se juntou aos tropicalistas, estava afastado do cenário musical desde os anos 80. O maestro se retirou da cena artística por conta de sua progressiva perda de audição. Ele ainda se aprofundou na música eletrônica, integrou a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de São Paulo.
Ano passado foi relançado um disco de sua autoria, "A Banda Tropicalista do Duprat" (1968), feito com os Mutantes, pela Universal.
da Redação

Divulgação
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Capa do disco 'Tropicália', de 1968
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Em outubro de 1967, durante o 3º Festival de Música Popular Brasileira, promovido na época pela TV Record, surgiam alguns dos artistas que formaram o movimento musical mais influente e original do país após a Bossa Nova. Os riffs de guitarra elétrica aliados à psicodelia, à mistura de ritmos populares e à experimentação presentes nas canções "Alegria, Alegria", cantada por Caetano Veloso e tocada pela banda argentina Beat Boys, e "Domingo No Parque", interpretada por Gilberto Gil e Os Mutantes no evento, transformaram a forma de se fazer música no Brasil por gerações e movimentaram a cena cultural brasileira.
A partir daquele momento até o fim de 1968, seria instalado o cenário revolucionário que mais tarde foi batizado de Tropicália. O disco antológico "Tropicália ou Panis Et Circenses", com nítido caráter de manifesto, lançaria um sincretismo de ritmos jamais ouvido, com o rock misturado à bossa nova, ao baião, ao samba e ao bolero.
Baseados nos ícones da contracultura inglesa e nos hippies norte-americanos, os baianos Gil, Caetano, Gal Costa e Tom Zé, ao lado dos Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias), Nara Leão e do maestro Rogério Duprat, criaram canções baseadas na pop arte, antropofagia, concretismo e numa estética de vanguarda, em plena ditadura militar. Tudo isso aliados aos letristas Torquato Neto e Capinam.
A idéia era, sobretudo, romper barreiras comportamentais, principalmente com a defesa do sexo livre. A moda psicodélica pairava na cabeça dos tropicalistas, que a difundiram por meio da irreverência.
Revolução cultural
Modernizaram-se também outras áreas da cultura nacional. Antes mesmo do lançamento de "Panis Et Circenses", o artista plástico Hélio Oiticica já havia lançado a obra de cunho vanguardista intitulada "Tropicália", em fevereiro de 1967. O movimento sofreu influências e influenciou o Cinema Novo de Glauber Rocha. Já no teatro brasileiro, apareceram as peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa. Na poesia concreta, surgiram nomes como Augusto de Campos e Décio Pignatari.
Quem batizou o movimento foi o jornalista e crítico de música Nelson Motta, com um artigo chamado de "A Cruzada Tropicalista", publicado no jornal "Última Hora", em 5 de fevereiro de 1968.
A intervenção na cena cultural do país foi mais crítica do que política. Por esse motivo o movimento foi menosprezado por boa parte da esquerda que, naquela época, ou apoiava os músicos politizados, a exemplo de Geraldo Vandré, ou os puristas da bossa nova. Para os universitários da chamada "linha dura" do movimento estudantil, a guitarra e o rock eram símbolos do imperialismo norte-americano, e não deviam participar do universo da música popular brasileira.
O movimento foi reprimido pela ditadura militar após a imposição do AI5 (Ato Institucional nº 5), em 1968, com a prisão de Caetano e Gil em dezembro do mesmo ano.
Desdobramentos
Nos anos 70, Os Secos e Molhados e o grupo pernambucano Ave Sangria retomaram a atitude anárquica e de protesto, com músicas repletas de boas doses de psicodelia, glam-rock e punk. Vestidos muitas vezes de mulher, o grupo de Ney Matogrosso e os recifenses utilizaram novamente o protesto e o sincretismo de ritmos da tropicália.
Ainda na mesma mesma década, Os Novos Baianos mesclaram choro, afoxé e rock and roll em suas canções. Outros ícones da vanguarda paulistana que receberam nítidas influências do movimento foram Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o Grupo Rumo.
Nos anos 90, o Manguebeat também foi criado a partir desse recurso tipicamente tropicalista: a mistura de elementos regionais (a exemplo do maracatu, coco e da embolada) e universais - como o rock, o funk, o dub e o rap. Não é à toa que a canção "Maracatu Atômico", do tropicalista Jorge Mautner, foi regravada pelo grupo Chico Science e Nação Zumbi, no álbum "Afrociberdelia" (1996).
Ainda hoje o Tropicalismo "faz a cabeça" de artistas internacionais como os músicos Beck e Devendra Banhart, que lançaram álbuns recentes declarando forte influência do movimento brasileiro.
Perdas recentes
Após a morte no ano passado do maestro e arranjador Rogério Duprat, um dos maiores ícones do Tropicalismo, o movimento perdeu em março deste ano o produtor musical Guilherme Araújo, que atuou nos bastidores do movimento com importantes nomes da MPB, como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.
Duprat, que começou na área erudita e depois se juntou aos tropicalistas, estava afastado do cenário musical desde os anos 80. O maestro se retirou da cena artística por conta de sua progressiva perda de audição. Ele ainda se aprofundou na música eletrônica, integrou a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de São Paulo.
Ano passado foi relançado um disco de sua autoria, "A Banda Tropicalista do Duprat" (1968), feito com os Mutantes, pela Universal.
Autores do tropicalismo
O pai do tropicalismo

Caetano Veloso

Gal Costa

Caetano Veloso

Gal Costa
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Os cantores e compositores João Gilberto, Gal Costa e Caetano Veloso, a fina flor da Tropicália brasileiro |
Músicos Bossa Nova

Antonio Carlos Jogim

Vinicius de Moraes

Carlo Lyra
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